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As enchentes e o impacto na saúde mental das crianças

Lianna Kelly Kunst

09/06/2024 19h00

Foto: Jussara John/Primeira Hora

Foto: Jussara John/Primeira Hora
Foto: Jussara John/Primeira Hora

Nos últimos seis meses, o Rio Grande do Sul tem enfrentado uma série de desafios causados pelas enchentes que deixaram milhares de famílias desabrigadas e vivendo em abrigos improvisados. Além dos prejuízos materiais, de acordo com a psicóloga infantil Dalvana Ferrari, 28 anos, que atende na Clínica Multidisciplinar Reconectah, de Feliz, esses eventos traumáticos podem ter um impacto profundo na saúde mental das crianças.

 

Quando uma criança perde seu lar e é forçada a se mudar para um abrigo, ela não está apenas enfrentando a perda de suas posses. Ela está perdendo a estabilidade, a rotina e, muitas vezes, o sentimento de segurança. ‘Os pequenos podem manifestar medo, ansiedade e preocupações. E podem demonstrar isso por meio de algumas mudanças de comportamentos como choros, incômodos, angústias. As crianças têm diferentes formas de demonstrar, algumas podem sofrer em silêncio, enquanto outras podem ser mais reativas e outras podem encontrar formas lúdicas de passar por esse momento’, explica.

 

Dalvana destaca que esses eventos podem sim afetar o desenvolvimento cognitivo e emocional dos pequenos, principalmente no aprendizado e na concentração, e que podem resultar em consequências também a longo prazo, na vida adulta. ‘Para exemplificar, alguns prejuízos podem ser dificuldades em se envolver em atividades normais do desenvolvimento, dificuldades de socialização, na escola, vulnerabilidade aumentada, entre outros’, afirma.

 

Nos abrigos, a falta de privacidade e a convivência com outras famílias em condições precárias agravam o cenário. ‘Essas situações podem gerar dificuldades de concentração, na memória e podem apresentar comportamentos como agressividade ou isolamento social, dificuldade para regular suas emoções, ansiedade, depressão. Isso pode levar a um declínio no desempenho escolar e aprendizagem’, reforça a especialista.

 

Família e escola têm papel fundamental

Segundo a psicóloga infantil Dalvana, é fundamental que pais e professores promovam um ambiente acolhedor, onde as crianças se sintam seguras e confortáveis para expressar suas emoções e necessidades. Além disso, devem garantir que elas recebam o suporte necessário, atendendo as necessidades individuais de cada um, oferecendo suporte emocional e encorajando-as a passar por este processo.

 

‘É importante respeitar os limites e os sentimentos das crianças em primeiro lugar. Mostrar-se aberto e disponível para conversar, mas respeitar o momento da criança se ela não quiser falar. Acolher as suas vivências, suas inseguranças e seus sentimentos. Disponibilizar atividades lúdicas, como jogos, brincadeiras e leituras infantis’, indica. ‘Destaco também a importância da ajuda de um profissional especializado, que dispõe de estratégias eficazes e que podem ajudar neste processo’, sugere Dalvana.

 

O papel da comunidade, a criação de ambientes seguros e o suporte psicossocial adequado são passos fundamentais para permitir que as crianças possam se recuperar e desenvolver de forma saudável, apesar das adversidades. ‘A psicoterapia infantil ajuda a criança a lidar com suas emoções e sentimentos de uma forma saudável e positiva, contribuindo para seu desenvolvimento e na superação de traumas. O psicólogo será capaz de identificar e auxiliar a criança no processo de autonomia e autoconfiança, tão necessárias para desenvolver resiliência e superar desafios. Envolver a família também para que se sintam acolhidas e seguras durante o processo terapêutico’, acrescenta a psicóloga.

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